quinta-feira, novembro 04, 2010

O Outro

Mais um dia acabou. Finalmente, não aguentava mais aquele pessoal chato daquele maldito bingo em que tenho que camelar todo bendito dia. Como tem velho lá, eles não tem mais nada pra fazer da vida é? Espero não ter que viver assim quando eu ficar velho... Isso não é vida, seu eu pudesse pegar o idiota que inventou esse jogo, faria picadinho dele. Tá bom, não faço mal a uma mosca... Hehehe


Tomar um banho, e cair na cama. Isso vai ser tão bom... Hum, a água tá tão quentinha, tenho que tomar cuidado pra não dormir aqui na banheira mesmo. Sabia que era o negocio da minha vida comprar essa banheira. Pensando bem, não sei como eu conseguia aguentar sem essa maravilha relaxante.


Ah, que delicia... Mas, se é pra pensar bem mesmo, não tinha só velho lá. Tem sempre um cara estranho no balcão do bar. Engraçado, sempre que eu começo a prestar atenção nele, ele desaparece não sei como. Simplesmente evapora no ar, como um fantasma. Impossível, ele não pode ser um fantasma, não existe um espírito tão nítido assim. Bem, chega de filosofia de botequim que a água tá começando a esfriar. É melhor eu ir logo pra cama que amanhã eu tenho que acordar cedo.


Que eu tenho que fazer amanha mesmo? Ah sim, ir ao banco, passar no mercado pra abastecer a geladeira... pagar as contas de água e luz... ai, eu não tinha que fazer isso quando eu tava na casa dos meus pais... mas também não dava pra continuar lá, não com a minha mãe me torrando a paciência dizendo que eu tinha que criar juízo, parar com as baladas, me casar com uma boa moca, constituir família... que piada... ah se ela soubesse da verdade...


Que que é isso ali no canto? Parecem dois olhos brilhando no meio da escuridão do meu quarto... Imaginação minha, não tem ninguém aqui... Espere, tem alguém me chamando, uma voz baixa...


- Miguel... Miguel...


Eu devo tá muito bêbado, to ouvindo coisas... Nunca mais saio com o Luiz, ele sempre aparece com umas coisas loucas me deixam doido rapidinho... Hum...


- Durma bem meu querido, que o dia do nosso encontro esta próximo, muito próximo.


Definitivamente, eu nunca mais ando com o Luiz. Esses sonhos estranhos estão me atormentando a duas semanas. Neles tem um cara estranho no meu quarto, me olhando dormir. Mas o pior que parece que eu o conheço, só não me lembro de onde, nem quem é ele.


Espera ai. Eu sei que é ele. É o estranho do bingo. É isso. É hoje que eu tiro isso a limpo. Não, ele não veio hoje...


- Procurando por mim? pergunta uma voz as minhas costas


Virei bruscamente e lá estava ele. Todo de preto, os longos cabelos loiros emoldurando um rosto pálido, quase sem cor, destacado apenas pelos lábios rubros e os olhos claros como água, sem poder distinguir se eram azuis ou verdes. Simples, elegante e inesquecível. Como eu posso não ter prestado atenção nele antes? 

Antes que eu pudesse sair do estupor que sentia, ele disse:


- Essa noite. No Pico das Estrelas. Meia-noite.


E com essas palavras ele virou as costas e entrou na multidão que acabara de entrar, desaparecendo em seguida. Eu devo estar maluco, isso não esta acontecendo. O pior é que eu consigo parar de pensar nessa noite, no que eu vou dizer, no que eu vou ouvir. Mas o que é que eu quero ouvir? Não sei...


Já é quase meia-noite. Espero que ele não esteja pensando em tirar uma com a minha cara e que isso não passe de uma brincadeira idiota. Aonde será que eu tava com a cabeça quando aceitei esse encontro idiota? Eu sou muito bobo mesmo. Ele tá demorando... Falando nisso, qual é o nome dele mesmo? Eu nunca soube.


- Daniel. Meu nome é Daniel.


Virei rapidamente ao som daquela voz doce e lá estava ele, belo como sempre. Mas, espere, ele esta flutuando acima do penhasco. Calmamente, Daniel caminhou no ar em minha direção, como se isso fosse completamente normal, como respirar. Completamente aturdido eu nao conseguia dizer nada. Estava totalmente enfeitiçado por aquela aparição, sem sequer piscar com medo de perceber que tudo não passara de uma ilusão de ótica.


Lentamente ele se aproximou e me envolveu em seus braços. Sua pele era fria e dura como mármore, estremeci ao primeiro contato e os cabelos da minha nuca se arrepiaram. Porem não me desfiz do enlaço. Estranhamente não conseguia sentir sua respiração em seu peito, nem ouvi-la. Levantei os olhos e me deparei com aqueles olhos claros, brilhantes, refletindo a minha própria imagem. Novamente estuporado, ergui o queixo e fechei os olhos. Aqueles lábios, tão frios mas mesmo assim, tão vivos, ávidos, sugavam os meus. Delicadamente, sua lingua, quente como fogo, abriu a minha boca.  Não havia macho nesse beijo, tampouco havia fêmea. Éramos um só. 
 
Então compreendi. Quem era ele, quem era eu, o que estávamos fazendo e o por que. Ele é um Nosrferatu. Um Vampiro. E me reencontrou depois de séculos de procura. Eu sou seu Gêmeo, sua Alma Gêmea, pra ser mais exato. Um Arcanjo. Trevas e Luz, finalmente juntos. Para sempre.

2 comentários:

  1. Primeiro, excelente texto, sua escrita esta em crescimento acentuado.

    Segundo... ai q susto !!! Me assustei diversas vezes com a tal 'aparição'.

    Por fim, sabe que não tinha pensado em 'almas gemeas' como opostos, como bem e mal.

    Ameeeiii ^^
    =**

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  2. na verdade esse texto eh do meu antigo blog... :P
    como eu não consigo usar ele, republiquei
    XOXO

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