Acordei com a cabeça pesada e latejando, como se tivesse batido fortemente em alguma coisa muito dura. Onde eu estou, o que aconteceu, eu me questionava. Lentamente e com muito esforço, abri os olhos. Estava deitado completamente nu em uma enorme cama de dossel, encoberto da luz do sol que invadia o quarto por pesadas cortinas de veludo vermelho. Como eu vim parar aqui, era a pergunta que não queria calar.
Levantei e corri as cortinas. Meus olhos, acostumados ao frescor da penumbra, contraíram-se em dor a claridade repentina. Aos poucos, adaptando-me a luz forte, pude analisar melhor o lugar em que me encontrava. Era um quarto amplo, luxuosamente decorado com numerosos detalhes em vermelho e preto; um tanto sóbrio demais, a meu ver.
Ainda cansado, decidi deitar-me novamente e descansar mais um pouco na esperança de, depois, ser capaz de lembrar-me de como cheguei a esse destino. Em sonho, rápidos flashes de memória perpassam minha mente, mas de forma desconexa. Subitamente, uma figura se destaca em meio a confusão. Uma mulher.
Loira, alta, pálida como uma morta, mas com um brilho nos olhos verdes, e emanava um poder que se assemelhava a uma deusa. Não, havia mais uma. Essa era tão branca como a primeira, mas seus cabelos era negros como a noite mais escura e os olhos, de um azul tao limpido como a agua em um lago parado. Ambas trajavam vestes sumarias, que expunham suas belas formas e curvas bem torneadas, como se tivessem sido esculpidas por um grande artista renascentista.
Quando abri os olhos pela segunda vez, o sol já estava a pino e havia uma farta refeição em bandejas de prata em uma mesa próxima. Pela primeira vez no dia, percebi o quão faminto estava. Servi-me sem a menor cerimônia. Satisfeito, fui assaltado por aquela deliciosa letargia que nos acomete apos um banquete como aquele.
Acordando pela terceira vez, jah era noite adiantada. Sem o menor aviso, uma lufada de vento abriu a porta de uma sacada, fazendo com que algumas cortinas brancas as quais eu não havia reparado, iniciarem uma dança ao sabor do mesmo. A luz do luar recaiu diretamente sobre mim, deixando-me totalmente hipnotizado. De repente, lembrei de tudo. Sangue, sangue por toda parte. E o brilho de presas. Presas brancas, pontudas, perigosamente afiadas.
Com um barulho ensurdecedor, a porta se abriu. E lá estavam elas, tão belas quanto em meus pensamentos. Subitamente, me dou conta do fato de continuar nu, mas, surpreendentemente, não sinto a menor vergonha ou pudor. Pra ser mais exato, uma excitação começou a crescer em mim. Ao verem-me daquele jeito, um sorriso aflorou dos lábios delas e um brilho de desejo apareceu nos olhos.
Caminharam em minha direção, os quadris balançando no ritmo das batidas do meu coração, que se aceleravam cada vez mais. Abraçando-as, um fogo sem tamanho explode em meu peito, trazendo a tona uma fúria, um fulgor, uma volúpia que, nem em um milhão de anos eu sonharia possuir. Rapidamente tirei, não, rasguei seria a palavra certa, as poucas roupas que elas vestiam. Fechei os olhos e beijei a que estava mais perto, sem saber qual era. Sua boca estava quente e úmida, e tinha um sabor doce que eu jamais tinha experimentado antes. Era sangue. Descia queimando garganta abaixo como wisky.
Fizemos amor de um jeito selvagem, brutal, como animais. Quando ia atingir o orgasmo, ambas morderam o meu pescoço, uma de cada lado. Foi mágico, atingi o clímax instantaneamente, potencializado alem do limite da compreensão humana. Minha visão ficou turva, o corpo se tornou pesado, mal podia respirar. Foi o meu ultimo pensamento, o ultimo dessa vida.
O dia seguinte raiou mais bonito do que nunca, mas essa beleza não pode ser mais apreciada pelos meus olhos. Pois não sou mais um simples humano. Sou um Imortal, uma Fera da Noite. E agora, atravessarei a eternidade em luxúria e gozo.